O Evangelho segundo Lucas é atribuído a Lucas, o médico amado (Colossenses 4:14), companheiro de viagem do apóstolo Paulo. Ele também é o autor de Atos dos Apóstolos, compondo uma obra em dois volumes dedicada a Teófilo (Lucas 1:3; Atos 1:1), provavelmente um cristão de alta posição social, cujo nome significa “amigo de Deus”.
Lucas escreve com linguagem grega refinada e um estilo literário estruturado, revelando preparo cultural. Embora gentio, demonstra profundo conhecimento das tradições judaicas.
Lucas declara seu propósito explicitamente: “para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (Lucas 1:4). Seu objetivo é apresentar uma narrativa ordenada, histórica e teologicamente fundamentada da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Suas ênfases principais incluem:
A universalidade da salvação (Jesus veio para judeus e gentios).
A inclusão dos marginalizados: mulheres, pecadores, samaritanos, pobres, doentes.
A centralidade do Espírito Santo e da oração.
A ênfase na alegria da salvação e na misericórdia de Deus.
O Evangelho pode ser dividido em cinco seções principais:
Lucas explica seu método e intenção: relatar com precisão o que foi cumprido entre os crentes.
Anúncios e nascimentos de João Batista e Jesus.
Cânticos teológicos (Magnificat, Benedictus, Gloria, Nunc Dimittis).
Batismo e genealogia de Jesus (trazendo-o até Adão – universalidade).
Tentação no deserto.
Pregação nas sinagogas.
Milagres e parábolas.
Chamado dos discípulos.
Confissão de Pedro e Transfiguração.
Jesus “endurece o rosto” rumo à cruz (Lc 9:51).
Ensinos sobre discipulado, misericórdia (Bom Samaritano), e o Reino de Deus.
Encontros com publicanos e pecadores (Zaqueu, por ex.).
Entrada triunfal.
Conflitos com líderes religiosos.
Última Ceia, Gólgota, sepultamento.
Ressurreição, caminho de Emaús, ascensão.
Lucas apresenta Jesus como:
Filho do Homem – plenamente humano, compassivo e acessível.
Salvador Universal – não apenas dos judeus, mas também dos gentios.
Profeta poderoso em obras e palavras – eco de Elias e Eliseu.
Ungido pelo Espírito – o Messias servo (Isaías 61 em Lc 4:18-19).
Senhor glorificado – vitorioso sobre a morte e exaltado ao céu.
O evangelho é estendido aos pobres, mulheres, gentios e excluídos. A salvação é dom da graça, não mérito humano (cf. o ladrão na cruz, Lc 23:43).
O Espírito age em cada fase: concepção, batismo, ministério, e impulsiona a missão da Igreja (conexão com Atos).
Jesus ora frequentemente. Lucas destaca orações antes de decisões cruciais (Lc 3:21; 6:12; 22:41).
O Evangelho inicia e termina com louvor e alegria. A salvação gera júbilo (Lc 15:7).
Lucas aborda com força as questões sociais: a inversão dos valores humanos e a justiça do Reino (cf. Lc 6:20-26).
A missão da Igreja é abrangente e acolhedora, voltada aos esquecidos.
O Evangelho desafia o legalismo religioso e promove relacionamento com Deus baseado na graça.
O discipulado é custoso, mas recompensador (Lc 14:26-27).
O modelo de oração, serviço e compaixão de Jesus é padrão para o ministério pastoral.
A esperança escatológica está ancorada na promessa da vinda do Reino e da presença constante do Espírito.
O Evangelho de Lucas é um retrato belo e abrangente de Jesus Cristo como o Salvador compassivo e universal. Seu conteúdo é pastoralmente rico, teologicamente profundo e espiritualmente inspirador. Como teólogos e pastores, somos chamados a anunciar essa mesma mensagem: a boa nova que traz alegria para todo o povo (Lc 2:10), com o coração cheio do Espírito e os olhos voltados para a cruz — e para a ressurreição.