Foi exatamente assim que me senti quando escrevi esta carta. Eu sou Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o Evangelho de Deus. E esta carta… esta carta nasceu de um peso no coração, de uma urgência que vinha do céu. Eu precisava falar com os cristãos de Roma, mesmo sem conhecê-los pessoalmente. Eles precisavam ouvir o que o Senhor havia me confiado. E talvez, ao ler, você também perceba que precisava desta carta tanto quanto eles.
Roma. Ah, Roma! A cidade onde o mundo parecia se encontrar. Estradas de mármore, colunas de poder, exércitos de ferro e palavras afiadas. A capital do Império, onde César era adorado como um deus e os homens buscavam glória, ouro e prazer. Roma não era apenas uma cidade: era o coração do mundo conhecido, o lugar onde ideias viajavam mais rápido que exércitos.
Foi nesse cenário que floresceu uma igreja, não fundada por mim, mas provavelmente por judeus convertidos em Pentecostes (Atos 2:10), que retornaram a Roma levando consigo o fogo do Evangelho. Eu os ouvi de longe. Soube de sua fé, ouvi falar do amor que tinham uns pelos outros, e meu coração se comoveu.
“Antes de tudo, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo por todos vós, porque em todo o mundo é proclamada a vossa fé” (Romanos 1:8).
Mas eu também sabia de seus desafios. Uma igreja formada por judeus e gentios, tentando viver unida em meio às tensões culturais, religiosas e políticas. Uma igreja que precisava de clareza sobre o Evangelho. Por isso escrevi. Por isso o Espírito me moveu.
John Stott disse: “A carta aos Romanos é a mais completa declaração do Evangelho na Bíblia. Nenhum outro escrito trata com tanta profundidade e clareza da justificação pela fé, da santificação e da soberania de Deus.” (A Mensagem de Romanos, John Stott).
E foi por isso que escrevi como escrevi: com lágrimas, com teologia, com poesia e com verdade. Porque Roma precisava. E você também.
Essa carta é o caminho da cruz em palavras. A estrada da salvação revelada, não por mérito humano, mas pela graça divina.
Como afirmou o Catecismo Maior de Westminster:
“A justificação é um ato da livre graça de Deus para com os pecadores, em que ele perdoa todos os seus pecados e os aceita como justos diante de si, somente por causa da justiça de Cristo imputada a eles e recebida somente pela fé.” (Pergunta 70).
Prepare-se.
Você ouvirá sobre pecado, graça, justiça e redenção. Mas também ouvirá meu coração, batendo no compasso do amor de Deus por você. Minha oração é que, ao terminar esta leitura, sua vida esteja diferente. E que você conheça, de fato, Aquele que pode fazer novas todas as coisas.
No próximo capítulo…
Você caminhará comigo pelos becos sombrios da alma humana. Verá como a justiça de Deus brilha mais forte sobre o pano de fundo da nossa queda. Vamos juntos até o coração do problema humano — e encontraremos ali a luz do Evangelho.
“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens…” (Romanos 1:18).
Prepare-se para descobrir que o problema do mundo não está apenas no mundo — está em nós. E que a esperança, graças a Deus, também está.
Sim, escrevi isso com dor no coração. Mas era necessário. Antes de falar sobre a justiça que vem de Deus, precisei revelar a injustiça que vem dos homens. O Evangelho não é apenas uma boa notícia – é uma notícia que só faz sentido diante de uma má notícia: o ser humano está perdido. Profundamente perdido.
“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1:18).
Essa ira não é raiva descontrolada. É a resposta santa e justa de Deus contra tudo o que destrói Sua criação. Contra tudo o que desonra Sua glória. Como escreveu R.C. Sproul: “A ira de Deus não é como a nossa. Ela é pura, santa, e necessária para que Deus seja justo.” (Justiça de Deus, R.C. Sproul).
Eles viram. Eles sabiam. Mas recusaram-se a reconhecer. Deus não se escondeu. Ele se mostrou nas coisas criadas, no céu, nas montanhas, no nascer do sol, na voz da consciência.
“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Romanos 1:20).
Ninguém pode dizer que não viu. Mas muitos escolheram não crer.
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22).
Trocaram o Criador pelas criaturas. A glória de Deus por imagens de homens, aves, quadrúpedes e répteis. Idólatras de coração, mesmo quando o altar era o próprio ego.
A sentença foi terrível. Não com raios do céu, mas com algo ainda mais assustador: o abandono.
“Pelo que também Deus os entregou à imundícia, pelas concupiscências dos seus corações…” (Romanos 1:24).
“Por isso Deus os abandonou às paixões infames…” (Romanos 1:26).
“E como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso…” (Romanos 1:28).
Três vezes escrevi: Deus os entregou. Porque o juízo mais profundo de Deus nem sempre vem em forma de castigo visível, mas quando Ele retira sua mão de contenção e deixa o homem seguir por sua própria escuridão.
John Stott afirmou:
“A pior coisa que Deus pode fazer conosco é nos deixar entregues a nós mesmos.” (A Mensagem de Romanos, John Stott).
O resultado? Um catálogo sombrio de comportamentos e desejos destrutivos:
“Cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano…” (Romanos 1:29).
Pare e leia devagar esse versículo. Ele não fala só de sociedades antigas ou distantes. Ele fala de nós. De mim. De você. De qualquer um que tenta viver sem Deus. A idolatria sempre produz imoralidade. A raiz da queda é espiritual, mas seus frutos são sociais, relacionais e morais.
E talvez você, leitor, esteja pensando: “Isso não se aplica a mim. Não sou idólatra. Não me entreguei à devassidão.”
Mas eu te pergunto: você já aprovou o erro alheio? Já fez vista grossa para o pecado por conveniência?
“Os quais, conhecendo a justiça de Deus (…), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” (Romanos 1:32).
O pecado tem muitas formas, mas só um remédio.
Você pode estar se perguntando: “Onde está a esperança?”
Ela está vindo. Ela já estava no começo:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê…” (Romanos 1:16).
Sim. Há uma boa nova. A justiça de Deus foi revelada, não apenas contra o pecado, mas para salvar pecadores. E é disso que trata todo o restante da carta.
Como diz o Breve Catecismo de Westminster:
“A principal finalidade do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” (Pergunta 1).
Mas isso só é possível se formos reconciliados com Deus. E é essa reconciliação que começarei a te mostrar no próximo capítulo.