9 Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:
10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e outro publicano.
11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma:
“Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
12 Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”
13 O publicano, estando em pé, longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo:
“Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. Lucas 18:9-14 (ARA)
A parábola está inserida no capítulo 18 de Lucas, que inicia com Jesus contando outra parábola:
A parábola do juiz iníquo e da viúva persistente (Lc 18:1-8), sobre oração com fé e perseverança.
Logo depois, Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano, também sobre oração, mas agora contrastando atitudes do coração diante de Deus: um orava para se mostrar, o outro para se arrepender.
Ambas parábolas tratam da oração, mas esta segunda destaca a postura interna, não apenas a persistência.
Lucas é claro ao dizer:
“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lc 18:9).
Jesus estava cercado de multidões — discípulos, curiosos, fariseus e pecadores — e dirigiu essa parábola aos que viviam de justiça própria, especialmente os fariseus e os legalistas religiosos, que viam a si mesmos como espiritualmente superiores.
Lucas 17 e 18 registram um dos momentos da caminhada de Jesus rumo a Jerusalém. Desde o capítulo 9:51, o Evangelho de Lucas mostra Jesus “resolutamente indo para Jerusalém”, e pelo caminho ensinando, curando, encontrando opositores, acolhendo humildes.
Então, a parábola foi contada em algum ponto desse caminho, possivelmente em uma vila ou caminho entre a Galileia e a Judeia. Não era em Jerusalém ainda, mas a caminho dela, e o templo citado na parábola é parte do enredo imaginado (não é onde Jesus está fisicamente).
Era uma época em que os fariseus dominavam o discurso religioso, ensinando que a justiça vinha do cumprimento da Lei e das tradições. Os publicanos, por outro lado, eram odiados como traidores e pecadores públicos.
Jesus, então, subverte tudo ao dizer que o publicano, não o fariseu, saiu justificado. É uma bomba teológica num mundo de méritos e aparências.
Jesus está a caminho de Jerusalém.
A parábola é contada em meio a uma multidão mista, com foco naqueles que se achavam justos.
Vem logo após uma parábola sobre oração perseverante.
Serve como ensino sobre justificação pela graça, humildade, e a postura verdadeira diante de Deus.
Com o coração reverente, mergulhemos na rica tapeçaria teológica dessa parábola contada pelo próprio Senhor Jesus. Cada versículo é uma janela para o coração humano e para a misericórdia divina. Eis, pois, uma exegese versículo a versículo de Lucas 18:10-14, seguindo a tradição reformada e fiel à Palavra de Deus.
“Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e outro publicano.”
Exegese:
A ambientação é o templo em Jerusalém, o lugar de encontro entre Deus e o povo. Os dois homens representam dois extremos da sociedade judaica:
O fariseu, símbolo da religião externa, zeloso da Lei, respeitado.
O publicano, traidor da nação, cobrador de impostos para Roma, visto como impuro e ganancioso.
Ambos foram orar, mas suas orações revelarão seus corações. O contraste é proposital e profundo. Jesus coloca lado a lado o “santo” desprezível e o “pecador” aceitável.
“O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.”
Exegese:
O fariseu está em pé, posição comum para a oração, mas a expressão “orava de si para si mesmo” revela que sua oração não é dirigida a Deus, mas alimentada por orgulho pessoal.
Ele agradece, mas sua “ação de graças” é uma autoglorificação disfarçada.
A comparação com os outros mostra um espírito julgador e arrogante, em oposição ao espírito humilde que Deus aceita. Ele não ora por misericórdia, não confessa pecados, pois se vê superior e suficiente.
“Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”
Exegese:
O fariseu apresenta agora suas credenciais religiosas. O jejum duas vezes por semana vai além da exigência da Lei (que previa jejum no Dia da Expiação), revelando um zelo exagerado e exibicionista.
O dízimo de tudo também é um exagero de justiça própria. Ele se gaba de suas obras externas, mas não percebe que, sem humildade, até mesmo os atos religiosos tornam-se vaidade.
“O publicano, estando em pé, longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”
Exegese:
O publicano também está de pé, mas “longe” — possivelmente do Lugar Santo, sentindo-se indigno. Ele não ergue os olhos, sinal de profunda reverência e vergonha.
Ao bater no peito, gesto incomum entre os homens judeus, ele manifesta dor interior. Sua oração é curta, mas densa:
“Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”
A palavra grega usada aqui para “propício” é hilaskomai, ligada ao sacrifício expiatório — ele clama pela misericórdia baseada no sacrifício. Ele se vê como um pecador em necessidade desesperada de graça.
É a oração que alcança o céu.
“Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”
Exegese:
A sentença de Jesus é radicalmente contracultural: o pecador arrependido é o justificado; o “santo” autoconfiante, não.
“Justificado” é termo jurídico e teológico — o publicano foi declarado justo por Deus.
Esta é a doutrina da justificação pela fé e graça, que Lutero chamou de “artigo pelo qual a Igreja permanece de pé ou cai”.
A máxima final resume o ensino de Jesus e ecoa toda a Escritura:
“O que se exalta será humilhado; o que se humilha será exaltado.”
O Reino de Deus é de corações quebrantados, e não de currículos espirituais.
Objetivo: Levar os ouvintes a abandonarem a justiça própria e se humilharem diante de Deus, confiando apenas em Sua misericórdia.
(andar devagar pelo púlpito, com a Bíblia aberta)
Irmãos e irmãs, o Senhor Jesus, em Seu caminho rumo a Jerusalém — onde derramaria Seu sangue por nós — parou por um momento… não para falar aos sábios, não para discutir com teólogos, mas para ensinar algo que determina o destino eterno de uma alma!
(levanta a mão direita, com firmeza)
Dois homens entraram no templo para orar. Apenas um saiu justificado.
(voz firme, fazendo contato visual)
O que acontece quando você ora? Deus ouve… ou você só está ouvindo a si mesmo?
[pense agora: “Como eu tenho orado?” — use tom interno e suave para essa sugestão PNL]
(aproxima-se do público, apontando com a Bíblia, sem agressividade)
Jesus contou esta parábola para os que confiavam em si mesmos. Gente que se olhava no espelho e via um santo, mas olhava o irmão e via um pecador.
(voz pausada e grave)
Quantos de nós ainda nos medimos pela régua dos outros, e não pela santidade de Deus?
[visualize agora a régua de Deus, alta, pura, inalcançável — isso é a medida verdadeira]
(gesto de contraste com as mãos — uma para a direita, outra para a esquerda)
Um fariseu… um religioso exemplar. Jejuava, orava, ofertava. Um currículo espiritual invejável.
(voz mais suave, tom de compaixão)
E um publicano… um cobrador de impostos. Um traidor. Um homem que sabia que era pecador.
[imagine agora esses dois homens entrando no templo — veja-os diante de Deus]
(olhar para cima, pausadamente)
Mas Deus… não vê como o homem vê.
(erguer o queixo, andar com postura rígida, imitando o fariseu)
“Ó Deus, graças te dou… porque não sou como os outros.”
(meio sorriso irônico, com voz afetada)
“Nem como este publicano.”
(faz uma pausa dramática, encara a igreja)
Ele jejuava. Dava o dízimo. Ele contava para Deus tudo o que Deus já sabia… e achava que isso o tornava justo.
(voz grave, tom de alerta)
Mas não há graça onde há orgulho.
Não há perdão onde há soberba.
[perceba agora — orgulho fecha o céu; humildade o abre]
(baixar a cabeça, andar lentamente como quem carrega peso nos ombros)
O publicano… ficava longe.
Não ousava levantar os olhos.
Batendo no peito, clamava:
(voz embargada, emocionada)
“Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”
(olhar para o alto com os olhos marejados, dar uma pausa com silêncio reverente)
[respire fundo agora — e sinta o peso do arrependimento sincero]
Ele não trouxe obras. Não trouxe méritos.
Trouxe só a verdade.
(erguer a Bíblia com a mão direita, declarar solenemente)
Disse Jesus:
“Este desceu justificado para sua casa, e não aquele!”
(voz em tom triunfante)
Aleluia! O que estava longe… foi recebido!
O que estava no alto… caiu.
[grave isso no coração: quem se exalta, será humilhado — quem se humilha, será exaltado]
(gesto de mãos abertas para a congregação)
Meus irmãos… quantas vezes oramos como o fariseu, mesmo dentro da igreja presbiteriana?
Quantas vezes nos achamos melhores porque seguimos as doutrinas certas, mas desprezamos o publicano ao lado?
(faça uma pausa longa, andando devagar, olhando para os rostos)
Você pode jejuar. Pode ler a Bíblia todo dia. Pode estar com a doutrina certa…
Mas se o seu coração estiver cheio de si mesmo, não haverá espaço para a graça.
(voz mais baixa, íntima)
Mas se hoje… você bater no peito… e clamar por misericórdia…
Deus ouvirá.
[traga agora à mente suas falhas — não para se afundar, mas para entregar]
(voz suave, tom de convite)
A oração mais poderosa… não é a mais bonita.
É a mais verdadeira.
(levantar uma mão para o céu, a outra ao peito)
Deus não rejeita um coração quebrantado.
E a cruz… continua aberta para publicanos arrependidos.
(fechar a Bíblia devagar, colocar a mão sobre ela)
Se hoje você se viu mais fariseu do que gostaria…
Se hoje você está cansado da máscara de justiça própria…
(clamar com voz firme)
Volte-se para Deus como o publicano.
Bata no peito. Chore se precisar. Mas clame!
(voz embargada de emoção)
“Ó Deus… sê propício a mim, pecador!”
E verás o céu se abrir, e a graça te levantar.