“E quando os homens voltaram, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando, com tamboris, com alegria e com instrumentos de música.” (1 Sm 18:6).
Em meio a tanta grandeza, eu sentia uma pressão silenciosa, quase invisível, para não apenas viver à altura do legado de meu pai, mas para superá-lo. As rivalidades também estavam presentes, especialmente entre os filhos de Davi. Meu irmão mais velho, Adonias, era forte e carismático, um líder natural que sempre teve a atenção do povo. Por mais que eu o admirasse, havia em mim um sentimento de insegurança. O peso de ser visto como o ‘filho de Bateseba’ frequentemente me acompanhava. Lembro-me das palavras murmuradas, dos olhares furtivos, e de como as pessoas se perguntavam se eu realmente era digno de ser o sucessor do trono. Hernandes Dias Lopes em “Vidas que fazem a diferença”, escreveu.
“A dor da rejeição pode fazer com que você duvide de seu valor e de seu lugar no mundo” escreveu
As noites no palácio eram longas e, muitas vezes, solitárias. Enquanto outros se divertiam e celebravam, eu me retirava para os jardins, onde as flores e os aromas da terra me confortavam. Era ali que encontrava um refúgio, um espaço para sonhar e refletir.
“A solidão é o espaço onde Deus pode falar com você”, disse Max Lucado em “Uma Vida com Propósitos”.
Em meio àquelas sombras, minha mãe, Bateseba, sempre foi uma luz. Ela me ensinou sobre amor e redenção, sobre como Deus é capaz de transformar nossas fraquezas em força. Sua presença suave e encorajadora sempre foi um bálsamo para minha alma.
Uma memória que frequentemente me vem à mente é a noite em que minha mãe me contou sobre a dor que sentiu ao perder seu primeiro filho. O peso de sua tristeza era palpável, e eu, então tão jovem, não conseguia compreender completamente a profundidade daquela dor. Mas entendi que, de alguma forma, minha vida era um consolo para ela e para meu pai, um novo começo em meio à tragédia. Refletiu Hernandes Dias Lopes:
“Deus tem uma maneira singular de usar a dor para nos preparar para grandes coisas”
Essa compreensão trouxe-me um senso de propósito, mesmo antes de entender que um dia eu seria chamado a governar.
As lições de vida eram muitas e, como um jovem espelho, eu absorvia tudo ao meu redor. Meu pai frequentemente me levava para observar a administração de seu reino. Eu via como ele tratava os súditos, sempre com respeito e dignidade, mesmo nos momentos de conflito. Max Lucado escreveu em O poder da fé
“Um bom líder não é aquele que teme o erro, mas aquele que busca o entendimento”
Aqueles ensinamentos começaram a moldar a visão que eu teria como rei. Deus estava sempre em nossas conversas; minha educação era tão espiritual quanto prática.
E então veio o dia em que o Senhor me fez uma pergunta que mudaria o curso da minha vida. Estava em Gibeom, um lugar tranquilo, repleto de árvores altas e sombras acolhedoras. O altar de Deus se erguia diante de mim, e a voz do Senhor ecoou em meu coração:
“Salomão, o que você deseja que Eu lhe conceda?” (1 Rs 3:5).
O que eu poderia pedir? O que era mais importante do que o coração do meu povo? Naquele instante, percebi que a sabedoria era o presente que eu mais desejava. Pedi sabedoria, não para minha própria glória, mas para governar com justiça.
“E Deus disse: ‘Porquanto pediste isso, e não pediste para ti longevidade, nem riquezas, nem a morte dos teus inimigos, mas pediste para ti entendimento para ouvir o que é justo’” (1 Rs 3:11).
Deus atendeu ao meu pedido e, desde então, meu caminho se iluminou. Se hoje sou considerado o homem mais sábio da terra, foi porque, no silêncio da minha infância, aprendi a ouvir. E assim, cada memória, cada sorriso e cada lágrima moldaram o rei que eu viria a ser.
Convido você a continuar comigo nesta jornada, enquanto exploramos os altos e baixos de meu reinado, os desafios que enfrentei e as lições que aprendi em cada esquina da vida.”